Em 1996, Emanuelle foi entregue para Glória, mãe biológica da Rhayene; e Rhayene, para Rosilane, mãe biológica de Emanuelle. Mais de duas décadas depois, um exame de DNA comprovou que as duas mães estavam na mesma sala de parto da Santa Casa da Misericórdia, no Rio de Janeiro, e tiveram suas bebês trocadas na maternidade.
Relatos como esse são mais comuns do que deveriam. Trocas na maternidade não são uma uma preocupação recente. No artigo de hoje, vamos conhecer a história das duas famílias que infelizmente, tiveram suas vidas modificadas por uma falha de segurança.
Glória e Rosilane estavam na mesma sala de parto no dia do nascimento de suas filhas, 10 de julho de 1996. Assim, seus caminhos se cruzaram de uma forma inimaginável, mas só foram perceber isso, 26 anos depois.
Cada criança foi para uma casa, onde viveram e cresceram cerca de 60 Km de distância uma da outra.
Conforme as meninas cresciam, os traços físicos as diferenciavam do resto da família. As mães contam que sempre perceberam que as filhas não se pareciam com elas, mas que era um assunto deixado de lado.
“Quando ela cresceu, desenvolveu características afrodescendentes. Mas como minha mãe era filha adotiva, sempre pensamos que poderíamos ter uma avó ou outro parente distante, que fosse afrodescendente”, relatou Glória.
Já para Rosilane, foi diferente, mesmo após notar e ouvir que a filha não tinha suas características, nunca se preocupou em fazer um teste de DNA.
“Teve gente que achou ela diferente, por ter a pele mais clara”.
Os traços físicos das meninas tornaram-se um motivo para que ambas as famílias tomassem uma decisão que por sua vez, colocaria fim no incômodo.
Enquanto isso, Glória, mãe solteira, vivia em Genebra, na Suíça. Ela recebeu um conselho vindo de uma bióloga na família, para realizar um exame de DNA para acabar com a dúvida de uma vez por todas.
“Minha mãe veio para o Brasil e fizemos o teste. Quando saiu o resultado, foi um momento de muito nervosismo, choramos muito abraçadas. Eu me recusava a acreditar que ela não era minha mãe”, disse Emanuelle.
Foi o exame de DNA que pôs fim no mistério e comprovou que Emanuelle não era filha biológica de Glória. Então, Glória decidiu registrar o caso na polícia e a Santa Casa compartilhou o nome de todas as mulheres que tiveram filhos no mesmo dia, 10 de julho de 1996.
A partir disso, Glória iniciou as buscas pelo bebê que deveria ter ido para casa com ela.
Em um grupo de internet destinado à busca por pessoas desaparecidas e com a ajuda das redes sociais, Glória encontrou o número da família de Rosilane. As duas trocaram fotos das filhas e relataram que se impressionaram com a aparência das meninas.
“Atendi e era a Glória. Ela contou a história e depois de uma longa conversa, ela mandou uma foto da Emanuelle e vi ali a minha filha caçula”, disse Luís Henrique Lima dos Santos, marido de Rosilane.
Na ligação, Glória contou a história e todos os detalhes que se lembrava do dia do seu parto para a família de Rosilane. Eles acreditaram que condizia com as lembranças que também tinham, mas Emanuelle, filha biológica de Glória, não teve interesse em conhecê-la no primeiro momento.
Em novembro de 2021, o Fantástico realizou uma matéria sobre as famílias. Desde então, aconteceram 3 encontros e ambas relataram que a aproximação entre as meninas estava evoluindo gradativamente.
Após a denúncia feita pelas famílias e dois pedidos de indenização por danos morais negados pela Justiça, o inquérito policial concluiu que os bebês foram trocados. Entretanto, a Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro alega que não há provas de que a troca aconteceu dentro do hospital.
O Estado, segundo a lei, deve investigar, processar, condenar e executar uma penalidade para alguém dentro de um período de tempo previamente estabelecido. Caso este tempo expire, e o Estado não consiga concluir o processo, sem dar justificações do motivo, passa a estar extinto o direito de punir o indivíduo que era alvo do processo.
Foi o que aconteceu com Rosilane e Glória, pois o crime prescreveu, ou seja, aconteceu há mais de 20 anos, mesmo assim, as famílias continuaram insistindo para que haja um responsável pelo ocorrido.
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que ocorra uma troca de bebê a cada 6 mil nascimentos no país. Tomando como base estes números, trata-se de mais de um caso por dia no Brasil.
Os dados são preocupantes, são 3 milhões de nascimentos por ano no Brasil, o que resultaria em 500 famílias deixando a maternidade com a criança trocada.
As técnicas tradicionais de registro de recém-nascidos, contribuem para que essa ainda seja a nossa realidade. No Brasil, toda criança deve ser registrada em cartório pelos pais ou pessoa responsável. Para isso, é preciso apresentar um documento padrão, a Declaração de Nascido Vivo – DNV, emitida pelo estabelecimento de saúde onde a criança nasceu ou por um órgão competente.
Acontece que, qualquer pessoa que tenha acesso ao DNV, pode apresentá-lo no cartório e registrar a criança como seu suposto filho.
É por isso que a Natosafe desenvolveu a única tecnologia capaz de capturar as digitais de recém-nascidos, e a partir disso, vincular as informações coletadas com as digitais da mãe.
Com a adoção da identificação biométrica para recém-nascidos, podemos evitar que mais de 1,2 milhão de crianças continuem desaparecendo no mundo. (Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM)).
É possível que histórias como a de Glória e Rosilane não se repitam e que os finais felizes de milhares de famílias não sejam interrompidos pela falta de segurança nas maternidades. Nossas crianças merecem crescer e viver de forma digna.
A Natosafe luta pela transformação do mundo em um lugar mais seguro!