Bebê com cólica? Saiba o que fazer

Esse quadro costuma se iniciar após a terceira semana de vida e durar até os três meses; não é fácil para os pais, mas é possível encontrar meios de amenizar as cólicas

Há inúmeros dados sobre a incidência de bebês com cólica: alguns estudos apontam que um quinto (20%) sofrem com o problema; outros estimam que chega a um quarto (25%); e há estatísticas ainda mais fortes, que estipulam em um terço (33%). Fato é que, independentemente da porcentagem real, trata-se de uma grande dificuldade, que gera muita angústia de mães e pais no cuidado com os seus bebês.

Mais de duas a cada três mães brasileiras (69%) afirmaram que a cólica tem alto impacto sobre a sua vida familiar, de acordo com uma pesquisa realizada pelo remédio antigases Luftal, divulgada em matéria da revista Veja. Os dados são importantes, pois dão a dimensão de como esse quadro costuma afetar a qualidade de vida de mães e pais.

Ser capaz de entender e como lidar com as cólicas dos bebês pode ser um grande alívio para todos, principalmente para o próprio bebê.

Quando as cólicas aparecem?

Como falamos no artigo sobre os primeiros três meses de vida do bebê, o ato de chorar é um dos cinco verbos mais comuns realizados por um recém-nascido no período. Cada indivíduo é único, mas pediatras e especialistas afirmam que as cólicas costumam aparecer nas primeiras duas a três semanas de vida e duram normalmente até o terceiro ou quarto mês.

De certa forma, pode-se encarar esse quadro como comum e necessário para o desenvolvimento infantil. Ao ser alimentado com o leite materno, o bebê tenta fazer a sua digestão, mas essa fermentação leva ao acúmulo de gases, fazendo com que o intestino dilate. O motivo? O intestino do bebê ainda é considerado imaturo.

“A cólica do bebê é como se fosse uma imaturidade do intestino, no sentido que ele fica se contraindo para cima e para baixo. Isso gera dor. O tubo digestório dos bebês é muito incoordenado – se formos ver, o leitinho chega no estômago, volta e eles regurgitam. Tem soluço. Tudo isso é normal”, afirma a pediatra Ana Escobar, professora de Medicina da Universidade de São Paulo em seu canal de Youtube.

Essas contratações involuntárias atrapalham a evacuação e geram muito desconforto para o bebê. A consequência? Choros persistentes decorrentes da dor e do incômodo. No entanto, há uma certeza para tranquilizar os pais: essas cólicas passam. Sim, podem ser momentos duros e difíceis de se conviver, mas elas têm prazo de validade já conhecido na maioria dos casos.

“Sim, a boa notícia é que ela [a cólica] passa. Após três meses, o tubo digestório adquire uma maturidade e a cólica acaba”, revela a profissional.

Como identificar a cólica?

Os pais sabem mais do que qualquer um e podem falar com propriedade: um bebê pode chorar por inúmeras razões. Fome, frio, calor, sono, dores, fralda suja ou molhadas, manha…

Com o passar do tempo e a convivência, eles vão conseguindo identificar as características de cada tipo de reclamação e da própria personalidade do bebê. De maneira geral, a cólica costuma ser um choro mais forte do que o dos outros tipos, como se o bebê não conseguisse ser consolado. Ele é mais forte, agudo, estridente e pode ser crescente – no sentido de se tornar cada vez mais intenso.

O próprio comportamento do recém-nascido é um indicativo para que os pais identifiquem a cólica: o bebê costuma movimentar as pernas de forma incessante, se esticar e se encolher, movimentar a cabeça com frequência e, em alguns casos, chega até a ficar vermelho. É comum que emita gases durante o choro: quando isso ocorre, ele se mostra aliviado.

Esse comportamento, como falamos anteriormente, costuma ter início a partir da terceira semana de vida e persiste em torno do terceiro mês. Há outros dois fatores que precisam ser observados:

– É mais comum no fim da tarde e início da noite, quando o metabolismo do bebê costuma ser mais lento.

– Observe o abdômen do bebê, pois ele costuma ficar enrijecido.

Esses dois pontos auxiliam na identificação e contribuem para que os pais possam ajudar o bebê a lidar com a cólica.

Como lidar com o bebê com cólica

Não existe tratamento totalmente eficaz para evitar as cólicas. Mas há dicas que podem ser dadas aos pais e mães para auxiliar a encarar a situação e dar um pouco mais de conforto aos bebês – e tranquilizar o coração dos pais. Veja alguma delas abaixo:

1. Massagem – Pense quando você está com um mal-estar relacionado a gases. Uma massagem alivia, certo? O mesmo vale para os bebês. Movimentos circulares, com um óleo infantil ou creme hidratante ajudam a reduzir os sintomas.

2. Bolsa aquecida – Uma bolsa de água quente auxilia a diminuir a cólica. É importante ter cuidado com a temperatura para evitar queimaduras. “Um pouco de pressão e de calor que a gente faça na barriga deles, em geral, atenua a cólica e relaxa as contrações intestinais. Isso é a melhor coisa que podemos fazer”, conta a pediatra Ana Escobar.

3. Banho morno – Assim como a bolsa aquecida, um banho morno tem o mesmo efeito e pode diminuir os sintomas.

4. Movimentos das pernas – Empurrar as pernas em direção ao abdômen ou fazer movimentos de “bicicletinha” fazem com que a compressão auxilie a reduzir a cólica e facilite a liberação de gases.

5. Arrotar – Parece não ter ligação, mas garantir o arroto depois da mamada costuma contribuir para diminuir as cólicas. Se possível, evite a mamadeira, pois reduz a ingestão de ar em comparação com o peito.

6. Aconchego – Ao contrário do que se prega para deixar a criança chorar, o carinho e o aconchego auxiliam o bebê a relaxar e se sentir seguro. Esse contato com os pais ou responsáveis alivia as dores e tranquiliza a criança.

7. Evite remédios – Não faça qualquer medicação por conta própria. Procure um pediatra e siga as suas orientações. “Não existe um remédio 100% eficaz contra a cólica”, reforça Ana Escobar.

8. Manter a calma – Nessa época, bebê e mãe estão muito próximos. O nervosismo e a angústia da mãe acabam sendo sentidos pelo bebê. Tente ficar tranquila para não afetá-lo ainda mais. O mesmo vale para o pai ou outros cuidadores do grupo de apoio.

E o que não se deve fazer?

As dicas do que fazer são importantes, mas as recomendações do que não se deve fazer em um bebê com cólica também costumam ajudar. Veja algumas delas:

Amamentar – Evite amamentar – ou dar a mamadeira – caso não seja realmente o momento para tal. O movimento de sucção realizado pela criança é um estímulo à contração do intestino. Ou seja, você estará potencialmente contribuindo para o agravamento dos sintomas.

Chás – Não dê chás com propriedades gástricas ou outros propósitos para o bebê. Como a cólica costuma ocorrer até o terceiro mês, o único alimento recomendado para o recém-nascido neste período é o leite materno, conforme recomendação do próprio Ministério da Saúde.

Deixar de amamentar – O corpo do bebê vai se acostumar com o leite materno, pois se trata de um processo de amadurecimento natural de cada indivíduo. É importante que a mãe não entenda esse quadro como uma suposta rejeição por parte do bebê e tente trocar a amamentação do peito por fórmulas lácteas. Lembrando que o leite materno é a melhor opção para o bebê, sempre. 

Quando e qual profissional procurar?

Uma das dúvidas recorrentes dos pais é: qual o momento de procurar ajuda de um médico? Como já tratamos antes neste artigo, os pais são as pessoas que mais conhecem o bebê e vão perceber se a cólica se tornar um tormento para o bebê a ponto de precisar de apoio médico.

Em geral, os médicos falam sobre uma “regra de três” para determinar o momento de buscar ajuda: a cólica deve durar ao menos três horas no dia; ocorrer mais de três dias na semana; e durar mais de três semanas seguidas. Esse é um indício de que a situação pode exigir a opinião de um pediatra. Importante: evite a automedicação, pois não há tratamento completamente eficaz para as cólicas.

Em geral, a cólica não traz outros sintomas que a irritação excessiva e incômodos, mas pode gerar sangue nas fezes e baixo ganho de peso nos quadros mais graves. Esses são sinais de que uma opinião profissional é necessária e deve-se buscar o pediatra.

Os hábitos da mãe influenciam no bebê com cólica?

Há muita discussão se os hábitos alimentares da mãe influenciam nas cólicas do bebê – inclusive durante a gravidez, o que geraria uma predisposição do recém-nascido ao quadro.

A realidade é que a qualidade da alimentação da mãe influencia neste aspecto, conforme os estudos, exceto se a criança tiver alergia à proteína do leite. Nesse caso, a mãe deve evitar alimentos até mesmo com traços de leite, o que torna a sua rotina mais complicada.

Apesar de não haver estudos comprovando cientificamente essa relação, alguns profissionais costumam orientar evitar determinados alimentos caso a criança esteja tendo crises agudas de cólica. Entre eles, é possível citar o café, o chocolate, a pimenta e o alho.

Além disso, é importante que a mãe observe as reações de seu próprio corpo. Se ela sofre com gases ao ingerir determinados tipos de alimentos, caso de brócolis, couve-flor, grãos (feijão, ervilha, lentilha) e cebola, entre outros reconhecidos por gerar esse tipo de desconforto, é recomendável que ela evite a sua ingestão durante a amamentação.

Há, inclusive, quem defenda a redução deles na gestação para diminuir a predisposição do bebê para as cólicas. Cabe ressaltar que não há comprovação científica desta relação, mas vale a pena conversar com o seu médico para saber quais cuidados devem ser adotados.

E sempre vale o bom senso: não se trata de eliminar esses alimentos da rotina (especialmente se for difícil para a mãe), mas ter moderação e observar como eles afetam o corpo da criança. O cuidado com a mãe pode gerar mais conforto para o bebê em uma época que pode ser particularmente difícil para toda a família.

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