Os bebês de alta necessidade são mais intensos e irritados que a média, o que interfere na qualidade do seu sono, na facilidade em se relacionar com pessoas diferentes da mãe e na exigência pela amamentação
Entre a gestação e os primeiros três meses de vida do bebê, a mulher vive um ano completo de transformações. De início, estamos falando da ansiedade e do medo gerado pelo parto e pela chegada de uma nova vida à rotina familiar. E, para muitas mulheres, esse período envolve uma total modificação em seu perfil hormonal, o que muitas vezes gera o fenômeno chamado de Baby Blues.
O primeiro trimestre do bebê é um período de adaptação para toda a família, incluindo a própria criança, que está começando a entender como será sua vida neste novo ambiente. Essa mudança radical muitas vezes leva a dificuldades nos primeiros 90 dias, em especial nas cinco ações mais comuns de um bebê, como mencionamos neste artigo:
– Chorar;
– Mamar;
– Arrotar;
– Sujar a fralda;
– Dormir.
E, para alguns bebês, essas necessidades são levadas ao extremo, tornando-se os chamados bebês high-need. De certa forma, todos os bebês se enquadram no conceito de “alta necessidade”, já que contam com demandas especiais no primeiro trimestre de vida. Mas há um conceito especial para este tipo de bebê.
Eles seriam crianças com alta necessidade de atenção e cuidado dos pais, em especial da mãe. Eles precisam de colo o tempo todo desde o nascimento, choram muito e buscam mamar o tempo todo. Outro fator que acaba incomodando pais e mães é a falta de sono, já que eles costumam dormir por cerca de 45 minutos, não deixando também os adultos descansarem de forma adequada.
Apesar do termo específico para identificar esse tipo de criança, os bebês high-need não se enquadram em um tipo de patologia ou em alguma síndrome psicológica, de acordo com a medicina. Na realidade, estamos falando de um tipo de personalidade do próprio bebê.
Se há um termo usado para definir essas crianças, como é possível identificá-las? Em geral, os pais alegam que as técnicas desenvolvidas para tranquilizar o bebê parecem não durar muito tempo. Além disso, em uma comparação com outros pequenos, eles parecem estar insatisfeitos ou com algum tipo de incômodo, já que o choro é constante. Veja algumas características:
É normal que as crianças chorem, já que é a sua forma de se expressar no início de vida. No high-need ele costuma ser constante e durar quase o dia todo, com interrupções em pequenos intervalos. Essa situação exige muito dos pais, que costumam levar os bebês ao pediatra e realizam exames diversos, sem que apareça qualquer tipo de alteração que explique os motivos por trás deste comportamento inconsolável.
O choro parece diferente, já que é mais intenso e explosivo. Costuma ser mais alto e não cessar até que os seus desejos sejam, de fato, atendidos – na maior parte dos casos, trata-se de aconchego e companhia.
Esses bebês costumam dormir em doses homeopáticas, exigindo amamentação ao longo das madrugadas. As crianças de alta necessidade, porém, não costumam ultrapassar uma hora seguida de sono, o que exige dos pais uma atenção especial no colo para que se acalmem. Ao contrário do que se imagina, se o seu bebê se enquadra nesse perfil, deixá-lo sozinho não apenas não resolve a situação, como costuma até mesmo gerar prejuízos tanto para a criança quanto para os pais.
Há quem diga que um bebê high-need pode ser identificado já no berçário, pois estão em constante movimento e chorando direto. Mesmo nos momentos em que não está chorando, se você observar o semblante do bebê, ele passa a impressão de não estar relaxado, o que pode ser percebido pelas mãos fechadas com força.
É como se apenas a mãe existisse para esse bebê. Em muitos casos, ele não aceita que outra pessoa atue nas tarefas diárias, como dar banho, trocar a fralda e colocar para dormir. Na maioria dos casos, o bebê high-need exige a presença da mãe de forma quase constante, já que ninguém mais parece ser capaz de suprir as suas exigências.
Sim, crianças mamam a cada três horas em média. Mas o bebê de alta necessidade também é mais exigente nesta área. Em razão de não relaxarem, eles têm uma maior demanda de alimentação, o que se reverte em mais pedidos por comida – normalmente, em intervalos menores do que as tradicionais três horas.
Esse momento é muito apreciado por esse perfil de bebês, tornando-se um período no qual conseguem relaxar. Por esse motivo, o tempo para amamentar costuma ser bastante longo e proveitoso para ambos.
Em um post em seu blog, a pediatra Kelly Marques Oliveira afirma que as características dos bebês de alta necessidade não devem ser analisadas como positivas ou negativas. “São apenas traços de comportamento”, diz.
“É importante interpretar esses sinais como formas de diferenciar um bebê do outro, como traços que resultam de sua singularidade. Esses aspectos de sua personalidade podem ser desafiadores para os pais, que surpresos ficam sem saber como interpretar tais características”, ressalta.
Em uma entrevista ao portal Parents.com, a pediatra Eleonora Kleyman, que atua em Los Angeles, ressalta que o termo high-need não existe do ponto de vista médico. “Trata-se de um termo que os pais usam para descrever os seus bebês, baseados em expectativas de como ele deve se comportar em comparação ao modo como outros filhos fizeram ou da maneira como outros bebês agem”, explica.
De acordo com a pediatra, não há um fator que explique os motivos por trás de um bebê se encaixar no perfil de alta necessidade. “Algumas crianças são naturalmente mais sensíveis. Elas exigem mais atenção e comportamentos reconfortantes. Eles podem ser facilmente super estimulados pelo ambiente, o que faz com que os pais precisem estar mais atentos às ações para tranquilizá-los”, diz. Na avaliação da pediatra, não há qualquer relação entre o bebê se encaixar no perfil de high-need e sua inteligência.
Eleonora ressalta que há uma diferença entre os bebês com esse perfil e aqueles que estão com cólicas. Os pais devem se basear em uma espécie de regra de três para determinar se não são as cólicas as responsáveis pelo choro intenso. Para isso, ela deve durar ao menos três horas por dia, ocorrer mais de três dias na semana e durar mais de três semanas seguidas.
Mas como identificar se seu filho está sofrendo com cólicas? Abordamos o tema neste artigo, porém uma das formas claras de perceber o problema das cólicas está na irritabilidade – e os sintomas característicos deste incômodo do bebê — que passa depois dos seis meses de idade.
Infelizmente, não há uma receita de bolo para pais e mães com bebês com alta necessidade. Por serem mais sensíveis, será preciso uma dose extra de paciência para lidar com ele e ir, aos poucos, compreendendo os hábitos e cuidados que o deixam mais relaxado e tranquilo.
– Tenha calma e fique atento aos sinais – O primeiro passo para os pais é manter a calma. A situação não é fácil, mas vai exigir muita paciência por parte dos responsáveis. Além disso, a criança dá sinais de ações que ela gosta ou não. Tenha atenção para perceber as sutilezas de seu comportamento.
– Busque apoio – É importante – especialmente para as mães – contar com uma rede de apoio, que deve ser composta por pessoas em quem ela confia e estejam dispostas a auxiliá-la, sem julgamentos ou comentários desnecessários. Se a família gera mais dificuldades do que soluções, procure as pessoas que entendam o seu momento particular e não criem novas dificuldades.
– Crie uma relação de confiança do bebê com outras pessoas – Pode ser difícil para todos, mas estabelecer um laço um relacionamento mais próximo com o pai e com outras pessoas faz com que a mãe e a própria família tenham mais flexibilidade. Ao se familiarizar com pessoas diferentes, a sensação de estranhamento do bebê vai reduzindo, permitindo que novas pessoas participem da rotina diária.
– Aproveite os momentos de tranquilidade – “Tome cuidado com você mesmo: durma quando o bebê dormir, tente se alimentar bem e se exercitar se puder. Você não vai estragar o bebê ao segurá-lo e confortá-lo quando ele precisar de você”, opina a pediatra Eleonora Kleyman. Se for possível, tente guardar um momento do dia para relaxar, enquanto o bebê fica com alguém de sua rede de apoio.
– Evite comparações – É difícil, já que a própria “condição” de um bebê high-need está relacionada às comparações com irmãos, familiares ou amigos. Nesse aspecto, os pais devem se preocupar em encontrar uma boa relação com o bebê e evitar usar parâmetros de outras pessoas para julgar o próprio filho. Esse tipo de comportamento gera prejuízos para a relação que está sendo construída.
– Aposte nos acessórios – Algumas crianças são avessas ao toque (especialmente se não for da mãe), enquanto outras se sentem confortáveis muito próximas de seus pais ou de pessoas. Nesse caso, o uso de acessórios – como as bolsas cangurus – costumam ajudar bastante os pais a realizarem outras atividades enquanto o bebê se mantém mais tranquilo. É uma possibilidade, sobretudo para bebês que não ficam bem no berço. É como se o bebê estivesse na barriga, embora fora dela.
– Aguce a sua criatividade e curiosidade – Se são mais agressivos e intensos, os bebês high-need também costumam ser mais curiosos e criativos. Dê liberdade para que possam explorar e experimentar o que está ao redor. Dessa forma, as necessidades de sua personalidade vão sendo preenchidas naturalmente.
Já não bastam os desafios específicos de lidar com o bebê com muitas necessidades, o cansaço de um novo membro – e exigente – na família, a adaptação às novas rotinas e ainda é preciso suportar o impacto mental de um bebê de alta necessidade. Para muitas mães, a sensação é de angústia e de culpa, como se tivessem alguma responsabilidade pela situação.
Não é e nem será fácil, mas um dos aspectos primordiais relacionados à situação é buscar se fortalecer. Será preciso muita insistência e paciência para compreender quais rotinas e cuidados evitam que o bebê se agite ainda mais e nem sempre as modificações dão resultados em períodos curtos. Por isso, ao fazer mudanças importantes, dê um prazo para avaliar os resultados.
Uma das preocupações essenciais é que os bebês são esponjas emocionais. Quanto mais fortalecida a mãe estiver, mais tranquilo o bebê tende a estar. Seguindo essa lógica, vale ressaltar que, se o bebê estiver chorando, falar em voz alta, gritar ou se irritar pode apenas servir de combustível para ainda mais agressividade por parte do bebê. É preciso ter isso em mente, sobretudo nos momentos de maior cansaço.
Não sinta vergonha em buscar sua rede de apoio sempre que for necessário e, caso considere pertinente, procure apoio profissional para lidar com a sobrecarga emocional trazida por essa situação. Manter o pensamento positivo e entender que se trata de uma fase que vai passar é uma maneira inteligente de encarar a situação por uma perspectiva positiva.
No fim das contas, todo bebê tem suas próprias necessidades e cada família vai encontrar os melhores meios para lidar com ele. Cabe a quem frequenta o seu lar criar o aconchego e a tranquilidade necessária para o seu bebê de alta necessidade.